Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,e o que nos ficou não chegapara afastar o frio de quatro paredes.Gastámos tudo menos o silêncio.Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,gastámos as mãos à força de as apertarmos,gastámos o relógio e as pedras das esquinasem esperas inúteis.Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;era como se todas as coisas fossem minhas:quanto mais te dava mais tinha para te dar.Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.E eu acreditava.Acreditava,porque ao teu ladotodas as coisas eram possíveis.Mas isso era no tempo dos segredos,era no tempo em que o teu corpo era um aquário,era no tempo em que os meus olhos eram realmente peixes verdes.Hoje são apenas os meus olhos.É pouco, mas é verdade,uns olhos como todos os outros.Já gastámos as palavras.Quando agora digo:meu amor,já se não passa absolutamente nada.E, no entanto, antes das palavras gastas,tenho a certezaaque todas as coisas estremeciamsó de murmurar o teu nomeno silêncio do meu coração.Não temos já nada para dar.Dentro de tinão há nada que me peça água.O passado é inútil como um trapo.E já disse: as palavras estão gastas.Adeus.Eugénio de Andrade (in "Os Amantes sem Dinheiro")Uma das palavras que mais me custa a digerir, ainda que muitas vezes a use sem pensar nas suas implicações, é mesmo a palavra ADEUS!!!
ADEUS implica quase sempre um afastamento, uma distância, que podem ser ou não quebrados assim que o queiramos.
Todos nós usamos esta palavra todos os dias e várias vezes até!!! E com tal banalidade que nem nos apercebemos do que estamos a dizer; talvez porque sabemos que o Adeus é um "até já" ou "até amanhã". Nestas situações eu, como provavelmente grande parte das pessoas, não sinto a palavra. Agora quando o Adeus significa "até nunca mais".............aí sim paramos, reflectimos, sentimos e ..................dói. Dói como se tudo deixasse de fazer sentido; dói como se a vida nos fosse tirada; dói porque não percebemos o porquê do Adeus; dói, porque nos questionamos se alguma vez voltaremos para dizer um olá; dói porque somos simples mortais que andamos nesta vida ao sabor da aragem que sopra e, porque não sabemos para onde vamos.....................
Eu não sei se alguma vez perderam tempo a pensar em qual será a próxima festa a seguir esta, ou seja, para onde vamos depois do nosso papel cumprido aqui? Será que voltamos numa outra peça, encarnando outra personagem? Ou ficamos no armário, à espera que tudo acabe, inúteis e sem valor?! Isto assusta-me!!! Assusta-me, porque sinto que até agora não aproveitei a minha vida!! Assusta-me pelo facto de pensar que se não fizer o que tenho a fazer e gostaria de fazer hoje, posso não ter oportunidade para fazer amanhã. "Carpe Diem"? Muito bonito de se dizer, mas não creio que o façamos a toda a hora, todos os dias. Quantas não são as vezes que deixamos para um depois aquilo que podíamos fazer agora? E não me venham dizer que se o fizemos foi porque tinha de ser assim......... não acredito..............
Enfim............
O Adeus causa tristeza, muitas vezes desespero, muitas vezes confusão e, quase sempre a dor......... Mas, mais tarde ou mais cedo o esquecemos, ou aprendemos a dar-lhe outro valor, reduzindo-o à sua (in)significância.
Depois, então, até é capaz de surgir a SAUDADE!!!! Palavra tão e somente portuguesa!!!
Uma palavra que causa alguma confusão!!! Mais uma vez traz a dor (quando associada ao adeus como até nunca mais)........... a dor de não poder reviver momentos, a dor de não poder rever pessoas,......enfim, a dor de não poder voltar a ser feliz como outrora.......
Mas, como adultos que somos, ultrapassamos, mais uma vez, tudo isto. Olhamos para trás e rimo-nos; olhamos para o que passou e dizemos:"Valeu a pena!"; olhamos para trás e concluímos :"Já passou. Vamos seguir em frente!". No entanto, nem sempre estamos convictos de estar certos, nem sempre encaramos o passado com frieza e afastamento devidos e já assimilados. Não o fazemos porque a nossa condição humana (tão estupidamente humana), não nos permite funcionar como uma máquina e carregar no "delete" para tudo desaparecer. Temos tendência a recordar.............. e aí, sentimo-nos nostálgicos e, por vezes, revoltados, simplesmente porque não podemos voltar atrás, para mudar algumas coisas, ou para voltar a vivê-las, ou para as viver mais intensamente desta vez ou, simplesmente para as rever.................resta-nos, então, chorar connosco, sozinhos, na nossa intimidade, até percebermos que tudo não passa apenas de uma fase. E que amanhã é outro dia, e tudo vai ser melhor.
Estou confusa, estou perdida, e acima de tudo triste por perceber que a vida é tão estupidamente efémera!!! Tão depressa estamos bem como, de um momento para o outro, perdemos a noção da normalidade......... e dizemos ADEUS ATÉ NUNCA MAIS........................................
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(Desculpem.....foi um momento de tristeza, igual a muitos outros que vou tendo, mas que igualmente vou ultrapassar...............)