sexta-feira, novembro 03, 2006

Dias de chuva

"De tudo ficaram três coisas: a certeza que estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria sempre interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo, fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro." (Fernando Pessoa)
Sempre que o sol da minha vida se encontrava encoberto pelas nuvens negras do mundo que me é alheio, encontrava na escrita uma maneira de afastar as forças negativas ou uma maneira de me juntar a elas e, a par com as mázinhas, chorar tudo, exorcizar tudo. Mas, ao que parece, acabaram-se-me as palavras. Os sentimentos continuam aqui, os fantasminhas também me acompanham. E eu não consigo afastar nada. Estou cada vez mais envolvida com eles.
Acabo agora a perguntar-me: "Quem é eu?" (sim, quem é o eu que vejo quando me fragmento, quando saio de mim e me observo como mera espectadora da minha vida que segue sozinha). Já não me conheço, como diria Fernando Pessoa: "Nada que vejo é meu".
Posso afirmar categoricamente que esta é a fase mais difícil que alguma vez atravessei. Quando penso que atingi o fundo, quando penso que nada pode piorar, vem mais qualquer coisa que me atira com toda a força contra um chão rochoso. E dói-me sempre e outra vez.
Sempre fui capaz de olhar para as adversidades com olhar de desdém. Sempre fui capaz de olhá-las nos olhos e dizer: "tu não me metes medo!!". Sempre fui capaz de cair e levantar-me tão rápido como a luz e continuar o meu caminho com a maior cara de pau, como quem ignora qualquer sofrimento.
Sempre que me doía a alma gritava cá para fora que era feliz, ria-me, sorria, e nunca deixei uma única lágrima cair para fora, eram todas guardadas no alguidar que trago dentro de mim.
Mas hoje, já não tenho essa força, esse ânimo, essa cara de pau, essa felicidade, ainda que fingida. Não tenho forças para nada e sinto-me a diminuir, a enterrar-me cada vez mais rápido na solidão, resignação e tristeza.
Estes dias, assim, chuvosos, negros, tristonhos, mortiços, também não ajudam. Acho que já nada me ajuda. Baaaahhhh!!! Não gosto nada de ser assim!!!
Estou farta de repetir o mesmo, mas sinto que estou atada à cintura com uma corda elástica, que me puxa e me solta consoante a sua vontade, elasticidade e resistência.
É como se eu estivesse a saltar de uma ponte (bunging jumping). Enquanto não salto, sinto medo, penso milhentas vezes se devo ou não saltar, equaciono uma possível falha, e penso que se a corda rebentar eu morro!!; quando finalmente decido saltar, sinto-me a rumar até uma felicidade que parece estar no fundo do rio, a adrenalina aumenta, sinto-me voar e por momentos estou feliz. Mas quando a corda chega ao seu máximo de resistência, quando não consegue esticar mais, sou de novo sugada de encontro ao ponto de partida. Não consegui chegar ao objectivo, não me consegui libertar. E assim continuo até tudo voltar à estagnação. (comparação miserável, eu sei).
Só precisava de cortar esta corda que me amarra. Este elo que estabeleci com um passado mais que perfeito. Só quero mesmo ser feliz. Quero mesmo muito estabilidade emocional. Quero vencer, pelo menos numa batalha, para ganhar ânimo e conseguir ganhar a guerra.
Devolvam-me quem eu era, quem eu sempre fui!!!!
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