sábado, setembro 23, 2006

À noite....


Lá fora um dia que se encerra. Com ele veio a chuva. O vento levanta-se, assobia levemente como quem avisa a sua chegada silenciosa.
Cá dentro ligo o rádio, ponho um CD a tocar. Procuro uma música que consiga conciliar o meu estado de espírito e a noite que começa lá fora. Nas colunas estoira, então, a música que procuro.
Sento-me no parapeito da janela, saco de um cigarro que acendo, presto atenção à música, ao mundo que se molha lá fora e ao que me consome o pensamento.
O vento grita baixinho, suavemente inicia uma dança sincronizada com o arvoredo que se molha lá fora, numa tentativa de sacudir a água que lhes lavou a alma. Uma lágrima cai........ e por solidariedade começa a cair outra e outra e outra. Desta feita o vento berra de raiva. As plantas gemem de dor, de uma alucinante viagem no turbilhão que se alevanta. Soluços incontroláveis tentam expelir o que tenho cá dentro como que num vómito insaciável. Sinto a cabeça a latejar. Sinto que a perdi. O meu coração dispara, tenta pôr a correr de novo um sangue que entretanto se cansou de andar sempre às voltas, levando a todas as células a mensagem de um corpo que sofre e chora. A respiração ofegante faz ecoar um grito de ajuda.
As toxinas começam a libertar-se em cada poro. A dor sai dissolvida nas lágrimas. A raiva é expelida a cada expiração. O vento atinge o máximo de revolta, as árvores curvam-se como quem faz uma vénia ao tempo que passa e não volta, a música berra no auge do desespero que quer transmitir. Eu choro até a última lágrima secar.
A música acaba. O cigarro apaga-se. O vento abranda. As árvores recompõem-se. A chuva cessa. A última lágrima cai. Mas a dor continua. A incerteza também. Chorei, aliviei,no entanto, fica a sensação e a certeza de que nada se resolveu.....



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