Em todas as cidades há um lugar aonde não chega a vida e todos os dias se morre. É nesses espaços que se encontra o verdadeiro significado da palavra miséria, onde se vive uma imensa tragédia, e é onde centenas de toxicodependentes procuram uma certa forma de suicídio colectivo.
Estes espaços são sobrevoados por um ar pesado. Talvez uma sombra que nos impede de respirar fundo, talvez um olhar vazio de quem tem a vida presa por um fio. E não há nada que nos permita entender o que faz alguém deixar-se descer ao grau zero da condição humana.
É ali que eles esquecem que um dia tiveram um passado, esquecem muitas vezes porque ali estão, porque o que realmente importa é a droga, o Deus que governa estes seres perdidos numa sociedade que eles entendem não os compreender, uma sociedade que, ela própria não percebe como se consegue enveredar por estes caminhos, esquecer-se de quem se é, de quem se foi. A verdadeira preocupação destes seres humanos é apenas a droga, porque ela não deixa que nada de mal aconteça, é o milagre que apaga os seus problemas, que os ajuda a esquecer. È o caminho que eles escolhem para fugir a uma realidade que não desaparece. Pensam eles conseguir afastar os problemas, até mesmo resolvê-los, mas a verdade é que eles permanecem, não fogem, ficam ali, sempre, à espera que eles um dia caiam na realidade. A droga apenas os ajuda a deturpar uma realidade que lhes dói, tornando-a mais aceitável e tolerável.
O mais triste desta devoção, é que tudo gira à volta desta Deusa. Acordam a pensar nela, na maneira de a conseguirem ter para eles. Tudo serve para fazer negócio e arranjar dinheiro para a droga: o corpo, um filtro de cigarro, seringas usadas ou por usar, tudo..... Ali só a droga importa. Uma vez na sua posse, o toxicodependente apenas pensa em engendrar uma forma de lhe dar uso e, assim, apagar por umas curtas horas a realidade que não quer ver.
Para esta “vida” são arrastadas famílias.... os pais, inconscientes daquilo que fazem, muitas vezes por saudades ou por não terem com quem deixar as crianças, obrigam-nas a assistir a tudo aquilo, aprendendo tudo aquilo que os pais fazem, aceitando tudo aquilo que vêem como um acto normal. São crianças que deixam, desde cedo, de conseguir discernir o correcto do errado, o bem do mal.
Este, por muito que queiramos que não seja, é um flagelo das sociedades ocidentais. Assombra-nos. Atinge-nos. Muitas são as soluções apontadas para uma tentativa de resolução, no entanto, penso que nenhuma delas consiga resolver o irresolúvel.
O mundo da droga tem as suas leis, tem os seus “princípios”. É um mundo de porta abertas para entrada, de entrada livre, mas de saída limitada. Uma vez neste mundo, dificilmente se consegue sair. É um mundo regido por leis de escravatura, que consome a vida, a alma, a personalidade de qualquer um. É um campo de concentração em que aqueles que entram deixam de ser unidade, passam a ser mais um número. Vestem todos o mesmo, não se distinguem. Esquecem tudo o que deixaram à porta e não começam do zero, mas rumam em direcção a ele. Vivem em contagem decrescente.
Um dia sonhei vir a ajudá-los, mas sinto-me impotente. É impossível conseguir ajudar quem não quer. É impossível ajudá-los sem entrar no mundo deles, sem os compreender. Interessei-me pela condição deles. Fui uma defensora dos seus direitos como seres humanos. Defendi que eles deveriam ter possibilidades de se integrar na sociedade e no mercado de trabalho. Mas hoje acredito que seja difícil.
Um dia, um professor meu, médico, disse que os toxicodepedentes não mereciam nada daquilo por que muitos lutavam em nome deles. Eles são indivíduos que morrem na sociedade. Em nada contribuem para o seu desenvolvimento, para a sua evolução. Existem para desestabilizar uma normalidade sensível. E, no entanto, nos hospitais passam à frente dos outros doentes. Uma vez lá, geram conflitos com os médicos e restantes profissionais de saúde que ao tentar ajudá-los descuram o tratamento de doentes que merecem a atenção destes profissionais, porque eles sim contribuem para o avanço deste país........
Este é um assunto que me confunde. Muito. Não sei o que defender. Não sei que posição tomar. Não encontro soluções para nada disto. É tudo uma “máfia”. Fazem o que querem. Têm o mundo na mão. E nós, nada podemos fazer. Poderíamos fechar os olhos ao que nos rodeia. A mim parece-me o mais fácil fazer (é isso que faço, porque não consigo compreender como combater este monstro), mas a verdade é que por muito que fechemos os olhos e por muito que queiramos ignorar, a verdade é que o monstro vai estar sempre debaixo da cama, à espera que alguém ponha o pé a descoberto, para nos puxar e não mais nos libertar. A verdade é que tenho medo do rumo que isto possa tomar. Tenho medo de eu própria ser atingida por isto......porque como uma vez disseram: “ela é heroína e por algum motivo tem esse nome: não há ninguém que a bata!”
É ali que eles esquecem que um dia tiveram um passado, esquecem muitas vezes porque ali estão, porque o que realmente importa é a droga, o Deus que governa estes seres perdidos numa sociedade que eles entendem não os compreender, uma sociedade que, ela própria não percebe como se consegue enveredar por estes caminhos, esquecer-se de quem se é, de quem se foi. A verdadeira preocupação destes seres humanos é apenas a droga, porque ela não deixa que nada de mal aconteça, é o milagre que apaga os seus problemas, que os ajuda a esquecer. È o caminho que eles escolhem para fugir a uma realidade que não desaparece. Pensam eles conseguir afastar os problemas, até mesmo resolvê-los, mas a verdade é que eles permanecem, não fogem, ficam ali, sempre, à espera que eles um dia caiam na realidade. A droga apenas os ajuda a deturpar uma realidade que lhes dói, tornando-a mais aceitável e tolerável.
O mais triste desta devoção, é que tudo gira à volta desta Deusa. Acordam a pensar nela, na maneira de a conseguirem ter para eles. Tudo serve para fazer negócio e arranjar dinheiro para a droga: o corpo, um filtro de cigarro, seringas usadas ou por usar, tudo..... Ali só a droga importa. Uma vez na sua posse, o toxicodependente apenas pensa em engendrar uma forma de lhe dar uso e, assim, apagar por umas curtas horas a realidade que não quer ver.
Para esta “vida” são arrastadas famílias.... os pais, inconscientes daquilo que fazem, muitas vezes por saudades ou por não terem com quem deixar as crianças, obrigam-nas a assistir a tudo aquilo, aprendendo tudo aquilo que os pais fazem, aceitando tudo aquilo que vêem como um acto normal. São crianças que deixam, desde cedo, de conseguir discernir o correcto do errado, o bem do mal.
Este, por muito que queiramos que não seja, é um flagelo das sociedades ocidentais. Assombra-nos. Atinge-nos. Muitas são as soluções apontadas para uma tentativa de resolução, no entanto, penso que nenhuma delas consiga resolver o irresolúvel.
O mundo da droga tem as suas leis, tem os seus “princípios”. É um mundo de porta abertas para entrada, de entrada livre, mas de saída limitada. Uma vez neste mundo, dificilmente se consegue sair. É um mundo regido por leis de escravatura, que consome a vida, a alma, a personalidade de qualquer um. É um campo de concentração em que aqueles que entram deixam de ser unidade, passam a ser mais um número. Vestem todos o mesmo, não se distinguem. Esquecem tudo o que deixaram à porta e não começam do zero, mas rumam em direcção a ele. Vivem em contagem decrescente.
Um dia sonhei vir a ajudá-los, mas sinto-me impotente. É impossível conseguir ajudar quem não quer. É impossível ajudá-los sem entrar no mundo deles, sem os compreender. Interessei-me pela condição deles. Fui uma defensora dos seus direitos como seres humanos. Defendi que eles deveriam ter possibilidades de se integrar na sociedade e no mercado de trabalho. Mas hoje acredito que seja difícil.
Um dia, um professor meu, médico, disse que os toxicodepedentes não mereciam nada daquilo por que muitos lutavam em nome deles. Eles são indivíduos que morrem na sociedade. Em nada contribuem para o seu desenvolvimento, para a sua evolução. Existem para desestabilizar uma normalidade sensível. E, no entanto, nos hospitais passam à frente dos outros doentes. Uma vez lá, geram conflitos com os médicos e restantes profissionais de saúde que ao tentar ajudá-los descuram o tratamento de doentes que merecem a atenção destes profissionais, porque eles sim contribuem para o avanço deste país........
Este é um assunto que me confunde. Muito. Não sei o que defender. Não sei que posição tomar. Não encontro soluções para nada disto. É tudo uma “máfia”. Fazem o que querem. Têm o mundo na mão. E nós, nada podemos fazer. Poderíamos fechar os olhos ao que nos rodeia. A mim parece-me o mais fácil fazer (é isso que faço, porque não consigo compreender como combater este monstro), mas a verdade é que por muito que fechemos os olhos e por muito que queiramos ignorar, a verdade é que o monstro vai estar sempre debaixo da cama, à espera que alguém ponha o pé a descoberto, para nos puxar e não mais nos libertar. A verdade é que tenho medo do rumo que isto possa tomar. Tenho medo de eu própria ser atingida por isto......porque como uma vez disseram: “ela é heroína e por algum motivo tem esse nome: não há ninguém que a bata!”
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