O viver humano, contrariamente ao existir animal, leva-nos inevitavelmente à questão "Quem sou eu?".
Não podemos dar ao ser humano uma definição única e definitiva, já que este é, por natureza, um ser inacabado e a incompletude constitui a sua própria essência.
Incompletude, inacabamento, inespecialização, fragilidade: eis a razão da nossa fraqueza, mas, simultaneamente, da nossa excelência enquanto humanos.
Confrontado com outros seres vivos, do ponto de vista biológico, o ser humano é, à partida, o mais indigente dos animais. Desprovido de alguns instintos elementares, não se encontra perfeitamente adaptado ao meio natural, necessitando de um alargado período de amadurecimento para atingir a idade adulta de forma mais ou menos independente (pois ele necessitará sempre dos outros para viver humanamente). Os outros animais, por seu lado, inserem-se de forma quase perfeita e acabada no meio natural e o seu período de maturação é bastante rápido.
Esta compleição indigente coloca nas mãos do Homem o seu próprio destino. Cada um de nós, porque não está perfeitamente adaptado, possui em si a liberdade de se construir como pessoa. Aliás, esta é a tarefa vital à qual nenhum ser humano se pode escusar: a construção de si mesmo.
Enquanto "feixe de possibilidades" e abertura, cada ser humano confronta-se com múltiplos caminhos que poderá trilhar e, ao optar por uns rejeitando outros, configura-se como pessoa, construindo a sua identidade pessoal. O Homem é, então, o resultado de escolhas que fez e o resultado daquilo que experienciou.
É a experiência que nos dá conhecimento (derivado da observação e prática) das "coisas da vida", e é a vivência de uma experiência (individual ou colectiva) aquilo que nos torna sábios.
Deverá, então, o ser humano viver em experiência, boas ou más, escolher caminhos, bons ou maus, vivendo em comunhão com outros que, como ele, experimentam e escolhem e, como ser dependente, deverá "servir-se" dos outros para se maturar.
Mas esta maturação deveria, a meu ver, ser pausada e pautada por tempos de reflexão mais ou menos longos. No entanto, muitas das vezes vivemos tudo ao mesmo tempo, com todas as pessoas ao mesmo tempo em plena orgia de experiências e, no fim, o que fica? Provavelmente e normalmente a maceração, a confusão, a desilusão, o falhanço. Porque por mais que se queira, não conseguimos aprender tudo ao mesmo tempo, ou pelo menos aprender tudo o que seria suposto.
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