Coisa feia a inveja....

Será demasiado errado invejar a felicidade dos outros, o amor dos outros, o sorriso dos outros, a paixão dos outros, a despreocupação dos outros, a abertura deles, a capacidade que eles têm de não assumir compromissos e serem felizes?

Não, não é inveja o que sinto. Estou certa disso. É apenas uma vontade de também eu ser feliz. Uma vontade de ter vontade de rir e sorrir sem forçar sorrisos e/ou risos. É o desejo de leveza o que anseio. Uma capacidade de ver o sol onde não está, as cores onde tudo é negro, a beleza no que está morto e rir. Sorrir porque sim, porque quero, porque é assim que me apetece estar.

Quero ter vontade de me levantar para enfrentar mais um dia. Quero saltar da cama o mais cedo possível. Aproveitar o dia todo, saboreando todo e qualquer minuto e segundo. Contado todos os milésimos de segundo até poder flutuar outra vez, alienar-me de tudo o que não quero que me prenda aqui.

Quero ser capaz de enfrentar os touros que aí vêm a correr na minha direcção. Quero ter uma força que me impulsione a dar o salto decisivo.

No fim de contas é apenas um desejo comum: quero ser feliz. Não é ciúme, não é egoísmo, é apenas qualquer coisa que roça a inveja sim, que me faz roer-me toda......

É o desejo de sentir um abraço, o calor de um beijo, a sinceridade de um carinho, de um sorriso. É a necessidade de me sentir bem neste corpo que passeio. É a vontade de estar, apenas estar e ser feliz, sem pensar como será amanhã, depois, daqui a nada, mas sentir que vou ter sempre aquela âncora à espera no porto de abrigo.

No entanto, não consigo ver os amantes a espalhar sorrisinhos, beijinhos e abracinhos, sem sentir um buraco negro a sugar-me, com vontade de me fazer desaparecer. Diria que o Amor dos outros dá cabo de mim.

E não é inveja não, é apenas o cansaço de estar triste.

Já sei, é a carência a apoderar-se de mim.

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