quinta-feira, dezembro 14, 2006

Saco de Pancada - Take 29994

São 2h20 da manhã e não consigo dormir.
À semelhança dos últimos 5 dias, tenho um filme que me passa na cabeça à hora de dormir que me incomoda e que em nada me relaxa, pelo contrário, irrita-me e faz-me sentir deprimida. Com ele envergonho-me, penso nas asneiras que fiz e de que me arrependo e revolto-me contra as situações que me têm feito viver sem necessidade e contra as pessoas de quem recebo tanto ódio que não percebo.
Tudo gira em torno deste meu objectivo que atingi. Foi um desafio desde início, para o qual trabalhei durante 4 anos incessantemente. Foi um ritmo alucinante!!! Foi tudo pensado, foram criadas estratégias e, como todos os planos, também falhou. Mas não foi por isso que desisti e, como tal, voltei à luta e abdiquei de muitas coisas, tomei decisões que me custaram tantas outras e arrisquei. Arrisquei, mas valeu a pena. Hoje estou no curso com que sempre sonhei e para o qual trabalhei.
Desde início que lutei contra adversidades, muitas vezes impostas pelas exigências curriculares, mas também contra a incredulidade dos outros, porque sejamos francos, poucas foram as pessoas que acreditaram em mim. Nessa luta, durante 4 anos, apenas pude contar com o apoio dos meus pais (imprescindível!! Então o do meu pai louvável!!! Foi capaz de me por a procurar em mim forças que não sabia existirem quando pensava que tudo estava perdido), e de duas professoras, que hoje são minhas grandes amigas. No entanto, consegui!! E aqui estou eu capaz de dizer que não basta querer, há que lutar, mas é também preciso acreditar.
Apesar de tudo, apesar do prazer de "vitória", dói-me o coração de cada vez que vejo que aquilo que tenho hoje, é uma pedra enorme no sapato de muita gente. E poderia passar ao lado, sem me importar, não fosse eu uma pessoa que gosta de espalhar a harmonia entre os povos, mas principalmente, por saber que esses incómodos são criados em pessoas que tanto admirava e por quem nutria um enorme carinho.
Custa-me aceitar que de um momento para o outro (assim que entrei neste curso) as pessoas tenham passado a tratar-me de maneira diferente, que de cada vez que me vêem apenas conseguem dizer: "desiste desse curso!! Não serve para ti!!" (ainda que na brincadeira), custa-me não me ser permitido falar com orgulho sobre o que aprendi, quando outras pessoas o podem fazer sem terem de ouvir coisas do género "não inventes", custa-me ver o ar de enfado que fazem quando falo do que me entusiasma, custa-me estar em família e ouvir perguntar, por exemplo ao meu irmão, como está a correr o mestrado e a mim não me perguntarem nada, fazerem de conta que nem existo,......, simplesmente porque entrei num curso onde todos pensavam que nunca ia entrar, porque todos subestimaram a minha inteligência e o meu espírito empreendedor e a minha capacidade de luta.
Já sei com o que contar. Já refilei muitas vezes com estas situações. Já falei sobre isto vezes sem conta aqui no blog. Mas de todas as vezes que falo sinto-me cada vez mais magoada, porque de cada vez que me humilham e me magoam dói cada vez mais.
EU admito que falar de mortos e doenças sob o ponto de vista fisiológico não seja coisa que se aborde de ânimo leve, mas quantas não são as vezes e, digam-me, em quantas reuniões de família não vemos os /as avós a falarem nas doenças que têm e nos comprimidos que tomam, e em que isso vos desperta alguma atenção?!
Tenho orgulho no curso em que estou. Tenho!!! Gosto do que faço. Gosto!!! Mas porque é que um engenheiro pode passar por uma obra qualquer e apontar defeitos ou virtudes que vê nela e eu não posso ouvir a minha avó dizer que tem uma perna magoada e dizer-lhe que tem de tratar assim e assado e que não pode usar este ou aquele tratamento, correndo o perigo de piorar a situação, sem ter de ouvir coisas do género: "já estás a inventar!!!" ou "desiste desse curso!!! não te ensinam lá nada!!". Porque é que um estudante de uma qualquer engenharia, ou de Farmácia, ou de Psicologia pode dizer de boca cheia o nome do curso que frequenta sem qualquer tipo de problema e quando chega a minha vez tenho de me encolher toda, ou nem abrir a boca ou abrir e sujeitar-me a olhares estranhos ou bocas foleiras!? Mas será que eu tenho de encarar estas coisas com naturalidade?! Será que tenho de ouvir isto sem me sentir humilhada e mostrar que não me dói!? A verdade é que cada atitude destas me afecta como se fosse espetado em mim um punhal afiado. E por muito a brincar que seja, há coisas que não devem ser ditas, principalmente, quando até um cego vê que atrás dessas palavras se esconde uma enorme de cotovelo.
Eu não sou pessoa de esfregar na cara de quem quer que seja aquilo que tenho ou deixo de ter. Não sou pessoa de me vangloriar com o que tenho. Não sou uma pessoa que gosta de mostrar que sabe mais ou menos. E muito menos sou pessoa de dizer as coisas quando não sei do que falo. Então porque é que continuam a ver aquilo que digo ou faço como uma afronta, como uma qualquer maneira de me mostrar superior?! Porque é que continuam a humilhar-me dizendo que eu não percebo nada?!
Enfim....... é este o filme que me passa na cabeça. São estas coisas que me tiram o sono, a serenidade e a paz interior de que preciso para adormecer. São estas coisas que me afastam cada vez mais das pessoas. São estas coisas que me fazem chorar muitas vezes, porque não percebo o porquê destas atitudes para comigo.
***=(

6 comentários:

Raul disse...

bem moça, a situação é a seguinte: bem ou mal, medicina ainda é o ex-libris do ensino superior, não só pelo estatuto que ainda vai dando ao futuro médico, mas também pela dificuldade em entrar no mesmo... provavelmente vais-te desiludir bastantes vezes (eu tenho pai e mãe médicos, bem como amigos\as e sei do que estou a falar... passei a minha vida inserido no meio "deles") mas mesmo assim só quem é burro (logo, cuja opinião conta zero) ou mal intencionado (idem) é que pode criticar\achincalhar\menorizar alguém que está nesse curso, por mérito próprio (o que de si já é óptimo)... aquilo que te vou dizer poder-te-à soar muito mal, mas sinceramente caga em toda e qualquer opinião (e pessoa, se tiver que ser) que sintas que logo à partida tem por motivo magoar... vais ver que te vais sentir bem melhor... orgulha-te do que conseguiste e manda o resto à merda!

desculpa pelo testamento...

beijo

asdrubal tudo bem disse...

Desculpa mas a única razão que há para desdenhar do teu curso é dor de cotovelo. Sempre foi e sempre continuará a ser o curso de medicina o curso de maior prestigio.

Mim... disse...

Podes cagar bem nisso pinha, perdoa-me a expressao!!! Tudo o q conseguiste foi por merito proprio, nao deves nada a ninguem e isso é q importa!
Quanto à dor de cotovelo, nao ligues.. Faz parte da especie humana e por mt q se queira, o curso nao deixa de ser "para elites".. Mas tudo vai das pessoas q o constituem! e acredita q este ano desmistifiquei um bocado este mito pq conheci malta bem fixe de medicina! Mostram q nao sao nenhuns cocos (alguns) e sabem divertir-se!
Agr, boquitas dessas...UUi, és bem mais superior pa isso te passar ao lado! :)

pq o merito é o teu orgulho!!
e o meu orgulho em ti é inabalável

Raul disse...

boas... então, hoje já dormiste melhor? ao que parece tb estiveste no maomet ontem :P sei-o porque chegou ao pé de mim uma rapriga que conheço e que me perguntou "olha lá caçador, tu conheces a ana catarina?" ao que eu responidi "hum?" :P depois lá se chegou à conclusão de que eras tu e mandei-te cumprimentos :) eheheh

beijo

Pinguça disse...

Ahahah!!! Que giro!!! E já temos conhecidos em comum!? ahah!! Estive lá, mas cedo me fartei, nunca levei tt pisadela como ontem!!! E depois sem avanço e cansadita, torna-se mais doloroso ser levada pelo sabor da corrente e das pisadelas, mas foi fixe.

Ah! E hoje dormi que foi uma coisa louca!!! Acordei há cerca de meia hora!! lolol!! :)

Beijinho=)

Raul disse...

pois, se fosses uma rapariga "com cabedal" (não digo o meu, não te desejo esse mal :P) esse problema não se punha :P aquilo estava animado, e ao fim - pasme-se - até já havia espaço! depois fechou :D

beijo